Safra e preços recordes na soja vão aquecer a economia do Estado
Com cerca de 90% da colheita de soja concluída, o Rio Grande do Sul já pode comemorar uma produção recorde, superior a 20 milhões de toneladas e com preços igualmente históricos. O Estado nunca havia superado a barreira de 19 milhões de toneladas do grão.
Como os reflexos do campo se disseminam pelo Estado de diferentes formas, os ganhos deste ciclo devem ajudar a incrementar o PIB gaúcho como um todo. Décio Teixeira, presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja/RS) diz que percentual já passa dos 90%.
Diretor-técnico da Emater, Alencar Rugeri assegura que mesmo que ainda não se tenha alcançado a totalidade do que foi semeado, o que resta são áreas menores, em regiões com plantio tardio.
“Não há mais risco de não termos um volume recorde de colheita. A preocupação agora é não deixar o solo descoberto. O produtor deve semear, assim que possível, uma cobertura de outono para não perder os nutrientes”, recomenda Rugeri.
Presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, também já celebra o atual momento do agronegócio. O produtor assegura que uma conjuntura inédita marca este ciclo.
“Em 50 anos de atividade nunca vi nada parecido, de safra grande e preços tão bons, e não apenas na soja, mas em todos os grãos e na pecuária também”, comemora Gedeão.
De acordo com a Emater, de um valor médio de R$ 97,3 a saca de 60 quilos no início de maio de 2020 a cotação saltou para atuais R$ 166,4, uma alta de 71% em 12 meses. Se o cálculo for retroativo a 2019, quando o preço médio recebido pelo produtor era de apenas R$ 64,4 – o que representa uma valorização de 158,4 % em dois anos no preço do grão.
O presidente da Aprosoja/RS, destaca que R$ 166,4 esse é um preço médio, já que o produtor tem conseguido acima deste valor. No levantamento de preços divulgados nesta semana pela Emater os valores pagos chegam a R$ 174,00.
“Acho que é hora de o produtor vender ao menos uma parte do que pode. Sabemos que o mercado uma hora está lá em cima e pode cair de um dia para o outro. E a China, nosso principal comprador, já sinalizou que não tem como continuar pagando nestes patamares”, opina Teixeira.
Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul, porém, avalia que as cotações em Chicago seguem subindo. E pondera que mesmo que compradores chineses possam querer reduzir preços, é a demanda do mercado que forma as cotações, com diferentes fundamentos. Um deles é o nível dos estoques, que hoje estão baixos como nunca na história, e valorizam o grão.
“Temos um importante indicador a ser divulgado em breve para analisar. É o primeiro relatório da perspectiva de safra dos Estados Unidos pela USDA. Mas já sabemos que os produtores de lá anteciparam o plantio neste ano justamente pela escassez de produto”, explica Luz.
Além dos bons preços atuais, a Aprosoja comemora a alta produtividade. Ou seja, o que ainda está para ser colhido ajudará a reforçar o recorde projetado para este ano na safra de soja 2020/2021, assim com os lucros.
“De uma produtividade média, sem considerar o ano passado, de estiagem, girava e torno 52 a 54 sacas por hectare. Nesta, estimamos que possa chegar a 59 sacas” estima Teixeira.
Aprosoja e Farsul convergem na recomendação de que essa união de fatores deve ser utilizada pelos agricultores para “organizar a casa”. Isso significa quitar débitos e equilibrar as contas que foram combalidas no ciclo anterior, quando as perdas com a estiagem foram grandes em diferentes culturas.
O cenário também gera um horizonte promissor para o plantio de inverno, acrescenta Gedeão. Com o produtor capitalizado pela atual safra de verão e alta demanda do setor de aves e suínos por ração, a tendência é de um melhor aproveitamento da terra semeando novos grãos. A Farsul, juntamente com outras entidades, está estimulando os agricultores a ampliarem o plantio de culturas de inverno em 2021.
“O déficit de milho para alimentar aves e suínos é de 9 milhões de toneladas. Estamos trabalhando no projeto Duas Safras, inclusive com Santa Catarina, para socorrermos o setor. O agricultor pode ajudar com plantio alternativo, como centeio, triticale e aveia, e atender esse mercado”, explica Gedeão.
São as dívidas a vencer, ou já vencidas, que devem nortear o produtor na hora da venda da soja – e não a expectativa de melhores preços futuros. É este o alerta que faz o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, a quem pergunta qual o momento para vender a produção e ter os melhores ganhos.
“O produtor deve primeiro olhar seu fluxo de caixa. Não tomar uma decisão apenas baseada nos preços do mercado e querer acertar o pico de preços. Ele tem que ver a sua necessidade do momento. Não espere acertar um número mágico, correndo risco desnecessário, que pode custar caro”, acrescenta Luz.
Uma dívida não paga, explica o economista, acarreta juros que podem corroer todo o possível lucro de segurar a venda do grão mirando determinado valor. E se este valor de venda idealizado não chegar, o produtor acabará vendendo por menos do que queria e ainda terá de arcar com o prejuízo da aposta errada.
“Tentar alcançar preços médios é o ideal para quem não tem controles de caixa adequados e nem capital para garantir que terá recursos para manter com as contas em dia até o próximo plantio”, indica Luz.
Fonte: Jornal do Comércio RS