Banco Mundial vê queda do PIB brasileiro de 5% em 2020
O Banco Mundial projetou neste domingo uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 5% para o Brasil neste ano, um pouco mais acentuado do que o recuo médio de 4,6% calculado para a região da América Latina e Caribe, destacando a necessidade de respostas urgentes ao forte impacto do coronavírus nas economias.
Para o ano que vem, a estimativa do Banco Mundial é de avanço de 1,5% do PIB brasileiro, seguido por crescimento de 2,3% em 2022. A perspectiva é mais tímida que a calculada para a América Latina e Caribe, que deve crescer na média 2,6% tanto em 2021 quanto em 2022.
A forte contração prevista para a economia brasileira este ano contrasta com o cálculo oficial do governo, que ainda é de crescimento zero. No entanto, autoridades da equipe econômica como o secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já têm admitido que o desempenho deve ficar no terreno negativo.
Mansueto chegou a dizer que qualquer estimativa neste momento seria um chute, dadas as enormes incertezas sobre o impacto e a duração do surto da doença do novo coronavírus.
Em seu relatório “A Economia nos Tempos da Covid-19”, o Banco Mundial ressaltou que políticas devem ser adotadas em “diversas frentes” para apoio aos mais vulneráveis e proteção de empregos, e também para evitar uma crise financeira em meio às medidas de isolamento social que têm sido tomadas para refrear as infecções.
O Banco Mundial ressaltou que muitos países da região estão enfrentando a crise com espaço fiscal limitado, em economias marcadas por níveis mais elevados de informalidade. Também lembrou que os países exportadores de commodities, como o Brasil, devem sofrer pela drástica queda de demanda no mundo.
“Muitas famílias vivem ‘da mão para a boca’ e não dispõem de recursos para suportar os bloqueios e quarentenas necessários para conter a propagação da pandemia”, afirmou a entidade, apontando para a necessidade de extensão dos programas de assistência social.
“Ao mesmo tempo, os governos terão que arcar com grande parte do prejuízo. Socializar esse prejuízo pode exigir a aquisição de participação em instituições do setor financeiro e empregadores estratégicos por meio de recapitalização. Esse apoio será essencial para preservar os empregos e possibilitar a recuperação”, acrescentou.
Na visão do Banco Mundial, esse processo deve ser feito com transparência, através de acordos sólidos para administração dos ativos recém-adquiridos.
MAIOR RECESSÃO EM 120 ANOS
Ao comentar as limitações fiscais, o economista-chefe do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Martin Rama não citou nenhum país específico. O Brasil, porém, já caminhava para ter em 2020 o sétimo ano seguido de rombo nas contas. A dívida bruta do País está em 76,5% do PIB, segundo dados de janeiro, um patamar considerado elevado para países emergentes. “O quanto de assistência vai depender do espaço fiscal de cada país”, disse Rama.
Economistas já aventam a possibilidade de a dívida beirar os 100% do PIB com as medidas que estão sendo adotadas pelo governo Jair Bolsonaro no combate à crise.
Como prioridades, o Banco Mundial destacou a necessidade de ampliar programas sociais para abarcar o maior número possível de trabalhadores que perderão sua fonte de renda devido à paralisação das atividades decorrente do isolamento social recomendado por autoridades de saúde.
No Brasil, o governo tem priorizado iniciativas temporárias, como o auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, que tem duração de três meses. Questionado se ações com esse período de tempo são suficientes, Rama disse que elas vão na direção correta. “O ambiente é de incerteza. Respostas às que se pode agregando tempo é melhor do que fazer um programa longo que, no fim, pode ficar por tempo além do necessário”, afirmou o economista.
Segundo Rama, um dos maiores desafios da região é o fato de que os índices de informalidade na América Latina são maiores do que em países desenvolvidos. “O sistema de seguro-desemprego não cobre todo mundo”, afirmou.
Além das medidas de proteção social, os governos precisarão monitorar os riscos de uma crise financeira e, eventualmente, recapitalizar bancos para impedir impactos de proporções ainda maiores, alertou o Banco Mundial.
“Estamos tendo dificuldades financeiras internacionais, por capitais que saem, por empresas que não conseguem pagar dívidas”, disse Rama. Ele defendeu transparência nas ações governamentais nessas frentes para evitar a “socialização de perdas” de maneira injusta, que penalize a população mais necessitada.
“Temos experiências em que se teve que fazer compra de ativos de má qualidade, isso teve custos econômicos, de confiança. Por isso enfatizamos necessidade de planejamento. Se chegamos a ter que fazer isso, temos que fazer com cuidado”, ponderou. Segundo o economista, a comunicação nessa frente será quase como uma espécie de “pacto social”.
Até agora, as projeções do Banco mostram uma retomada já em 2021, com crescimento de 2,6% na América Latina e no Caribe e de 1,5% no Brasil. Rama reconheceu, porém, que há uma “margem enorme de incertezas” e que será necessário monitorar os reflexos da pandemia para eventualmente fazer novos prognósticos
Para conseguir fazer seus cálculos, o Banco Mundial inclusive precisou incorporar mais dados e novas fontes de informação às suas análises. A instituição recorreu, por exemplo, a dados da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) sobre emissões de dióxido de nitrogênio, um poluente atmosférico emitido por chaminés industriais e cuja concentração pode servir de termômetro para o ritmo da atividade econômica. Na China, a concentração de NO² reduziu drasticamente no entorno de Pequim, capital do País.
Fonte: Reuters e Notícias Agrícolas