Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024
Telefone: (54) 3383 3400
Whatsapp: (54) 9 9999-7374
Curta nossa página no Facebook:
Clique para Ouvir
Tempo nublado
30°
16°
26°C
Espumoso/RS
Tempo nublado
No ar: Manhã Líder
Ao Vivo: Manhã Líder
Bom Dia Líder

Coronavírus avança a um ritmo quase 70% superior ao da pandemia de gripe A

Coronavírus avança a um ritmo quase 70% superior ao da pandemia de gripe A
14.03.2020 07h46  /  Postado por: Roger Nicolini

Uma análise da propagação mundial do coronavírus revela por que, até o momento, ele desperta mais preocupação e provoca mais impacto do que a pandemia de H1N1 verificada uma década atrás.

A taxa média de contaminação da covid-19 é quase 70% superior à da gripe A, enquanto ainda não há tratamento conhecido para combater a infecção. Estimativas oficiais sugerem que a ameaça atual teria também uma letalidade superior à do vírus surgido em 2009, mas ainda há divergências entre infectologistas em relação a esse ponto. Os especialistas acreditam, pelo menos, que hoje há um melhor preparo para fazer frente à crise de saúde.

Contas iniciais indicam que, em média, um paciente com a covid-19 transmite o vírus para outras 2,5 pessoas. Esse dado, chamado de número básico de reprodução, revela a capacidade e o ritmo de contágio de uma doença. No caso do influenza responsável pela pandemia de 2009, o índice foi calculado em 1,5 – ou seja, o vírus atual avança a um ritmo 66,7% mais elevado.

— O coronavírus é mais infeccioso. Ele se introduz de maneira mais fácil do que o influenza. Talvez, em razão de alguma mutação, tenha se adaptado melhor ao ser humano — analisa o infectologista do Hospital de Clínicas e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Luciano Goldani.

A segunda questão fundamental é a letalidade dos micro-organismos. Mas, nesse ponto, é difícil achar uma resposta definitiva. Até hoje, estudos apresentam diferentes taxas para a pandemia de H1N1 e variam desde algo como 0,1% até mais de 5%. O problema é como essa conta é feita: o número de mortes é dividido pela quantidade de doentes – mas esse denominador é muito difícil de calcular e pode seguir diferentes parâmetros.

— Nem todo doente tem sintoma, nem todos que apresentam sintomas procuram um serviço de saúde e nem todos que procuram atendimento são testados. Os estudos variam muito porque usam parâmetros diferentes. A letalidade é uma se for calculada apenas sobre os casos graves, outra se considerar os casos testados em laboratório, e outra se tentarmos estimar o total de infectados, o que é complicado — explica o chefe da Divisão de Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Medronho.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula um índice de letalidade de 3,4% para a covid-19 – superior à estimativa de 1,28% para o primeiro ano de gripe A –, mas é possível que o dado atual ainda esteja superestimado. No começo da epidemia de H1N1, cálculos preliminares indicavam risco de morte até 10 vezes superior ao que se confirmou depois. Essa variação costuma ocorrer porque, no início de epidemias ou pandemias, os casos mais graves costumam ser contabilizados.

— O coronavírus, aparentemente, se espalha de forma mais rápida. Mas é possível que a letalidade acabe sendo semelhante à do H1N1 — acredita o professor de epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jair Ferreira.

Um estudo realizado por Roberto Medronho apontou que, no Brasil, o H1N1 teria sido mais mortal do que o coronavírus foi, até o momento, na China. O levantamento aponta que, apenas entre os casos graves, 23% das vítimas brasileiras da gripe A morreram no ano passado, enquanto entre os chineses esse índice fica em cerca de 12%.

De forma concreta, a OMS estimou 18,5 mil mortes por H1N1 no primeiro ano da gripe A – em uma média de 1,5 mil por mês. Até sexta-feira, morreram 4.613 pessoas com covid-19, também em uma média mensal de 1,5 mil desde dezembro. O que se pode dizer com certeza é que a gripe A era mais letal para um perfil diferente de vítimas: adultos mais jovens e gestantes, por exemplo, enquanto a atual pandemia mata principalmente idosos – sobretudo na faixa acima de 80 anos, em que a taxa de letalidade atinge 15%.

Outra diferença fundamental entre as pandemias é que, uma década atrás, logo se descobriu que uma medicação já existente, o oseltamivir, ou Tamiflu, era eficaz para combater o vírus. Até o momento, médicos ao redor do mundo buscam apenas tratar os sintomas dos pacientes enquanto eventos públicos são cancelados para aumentar a prevenção, e segue a corrida da ciência em busca de uma vacina.

Para especialistas, preparo pra combater pandemia é maior hoje

A contaminação global provocada pelo H1N1 a partir de 2009 deixou um rastro de mortes, mas também lições que poderão ser úteis na atual frente de batalha contra o coronavírus.

Para especialistas que trabalharam na pandemia anterior, a experiência acumulada deixa o país em melhores condições para encarar a covid-19 – embora a disponibilidade de infraestrutura ainda seja considerada um desafio.

O infectologista do Hospital de Clínicas e professor da UFRGS Luciano Goldani avalia que hoje a definição dos protocolos (forma de agir dos profissionais de saúde) e a circulação de informações sobre o avanço do coronavírus estão em um patamar mais elevado do que no começo da pandemia anterior.

— As secretarias e o Ministério da Saúde vêm fazendo um excelente trabalho — avalia Goldani.

As reações mais severas ao avanço do vírus, como quarentenas de regiões inteiras, suspensão em massa de campeonatos esportivos, eventos públicos em geral, aulas e outras iniciativas, conforme o especialista, também são resultado da experiência anterior.

— Em 2009, fomos pegos despreparados. Não tínhamos um modelo para adotar preventivamente. Agora nós temos, e o chineses fizeram uma contenção extremamente severa, nunca vista, com pessoas sem poder sair de casa ou da sua cidade, e tiveram bons resultados — diz o professor da UFRGS.

A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual da Saúde (SES), Tani Ranieri, afirma que o H1N1 deixou lições que estão sendo colocadas em prática hoje, como uma melhor organização de todo o sistema de saúde em diferentes níveis de alerta. A cada etapa de agravamento da doença, novos hospitais de referência deverão ser mobilizados.

Outro ensinamento é a importância da detecção precoce. Durante a primeira onda da gripe A, o Estado enviava para São Paulo amostras para análise, o que aumentava o tempo de espera em vários dias.

— Hoje temos o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública do RS) realizando o diagnóstico em menos de 48h — afirma Ranieri.

Isso não significa que a situação seja confortável. Goldani lembra que a estrutura de saúde, de forma geral no país, é “muito debilitada” mesmo em condições regulares de operação:

— Há dúvidas se unidades básicas de saúde, que já têm uma demanda reprimida, terão condições de atender um grande número de pacientes, assim como centros de tratamento intensivo.

A SES informa que leitos poderão ser adaptados para tratamento intensivo, caso necessário, com o decorrer da epidemia. Presidente do Sindicato Médico do RS (Simers), Marcelo Matias acredita que outra possibilidade é criar estruturas temporárias para receber pacientes com sintomas e, assim, também evitar contato com outras pessoas em grupos de risco mais elevado para o coronavírus.

— É preciso ter uma boa capacidade de atendimento na rede pública, mas no setor privado também — diz Matias.

Uma década atrás, gripe A deixou 298 vítimas no RS

Em 11 de maio de 2009, a edição do jornal Zero Hora noticiava: “A gripe que amedronta o mundo chegou ao Rio Grande do Sul”. A Secretaria Estadual da Saúde havia confirmado, na véspera, o primeiro caso de H1N1 no Estado – uma gaúcha de 47 anos da Região Noroeste que contraiu o vírus em uma viagem de turismo à Europa. Ela se recuperou, mas, até o final do primeiro ano daquela pandemia, 298 moradores do Estado morreriam em razão da gripe A.

— O H1N1 trouxe de aprendizado que a gripe mata. As pessoas, até então, tinham a ideia de que gripe se tratava em casa com chá e repouso. Na maioria das vezes, isso até é suficiente, mas o vírus mostrou que pode matar. Disso vem a importância das estratégias de vacinação do maior público possível — afirma o infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado da Silva.

Entre as principais vítimas estavam crianças, adultos jovens e gestantes, o que levou o governo estadual a criar uma linha de telefone, o Disque-Gestante, para fornecer orientações especificamente para quem estava esperando bebê durante a pandemia.

A combinação entre o clima mais rigoroso no sul do país com a proliferação do vírus na vizinha Argentina tornou o Rio Grande do Sul um dos pontos mais afetados pela doença em todo o Brasil. O enfrentamento à pandemia foi feito por meio da criação de um gabinete de emergência, mesma medida adotada agora para encarar o coronavírus.

Fonte e foto: Gaúcha ZH

Comente essa notícia
Receba nosso informativo
diretamente em seu e-mail.
Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
CONCORDO