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BR´s-386 e 285 concentram 23% dos acidentes do RS

BR´s-386 e 285 concentram 23% dos acidentes do RS
21.11.2018 07h35  /  Postado por: upside

A Polícia Rodoviária Federal divulgou o estudo “Balanço de Acidentabilidade de 2017 e 2018”, com dados sobre todas as ocorrências atendidas pela PRF no Rio Grande do Sul. Sem surpresa, a campeã em acidentes é a BR-116, que cruza o estado de Norte a Sul, se estendendo até o Ceará, e que totalizou 394 acidentes. Porém, duas rodovias de menor distância, e de grande importância para a região, estão na lista: a BR-386, que está em 2º lugar com 266 acidentes graves, e a BR-285, na 5ª colocação com 167 ocorrências registradas em um ano.

Para o professor de Engenharia de Produção Mecânica e Logística da Universidade de Passo Fundo, Auro Marcolan, as duas rodovias, principalmente a BR-386, tem uma importância que é relegada pelos governos e empresas. “A BR-386 é uma estrada fundamental para a nossa região, pois ela faz o escoamento da produção toda para Porto Alegre, e o que vai para Rio Grande, e é um dos nossos alicerces do modal rodoviário gaúcho. A questão é que já está caindo de maduro a duplicação dessa estrada, pois pela importância dela, a rodovia deveria ser melhor considerada. Ela foi feita na década de 1970, e até hoje não foi implementada e nem arquitetada nenhuma outra rodovia que faça a ligação com a região metropolitana, algo que poderia ajudar a cumprir essa função. Então acredito que ela já deveria estar duplicada há anos. Claro que se compreende as questões burocráticas, e as adequações de projeto necessárias, mas ela precisa de muito de ajustes. Não adianta só colocar radar”, aponta.

Os números da violência no trânsito

As duas rodovias citadas, juntas, representam 23% de todos acidentes atendidos pela PRF no período. A BR-116, que tem 654,5 km de extensão em território gaúcho, tem 21% de percentual de acidentes em um ano. A BR-386 também aparece em 5º lugar na lista de trechos mais perigosos: pela PRF, o segmento que conecta Lajeado a Estrela tem 28 acidentes graves registrados. O trecho mais perigoso do Estado, segundo o estudo, é a seção da BR-116 que liga Esteio a Canoas, com 50 acidentes graves ocorridos entre 2017 e 2018.

O tipo de acidente mais comum nas estradas gaúchas, segundo o estudo, é a colisão frontal, com 369 ocorrências. Só no último fim de semana, esse tipo de acidente tirou a vida de seis pessoas na BR-386: dois irmãos que morreram no sábado (17) próximo a Lajeado, duas outras vítimas de 32 e 34 anos em Soledade, no final do domingo (18), e um casal que faleceu próximo a Tio Hugo, na tarde de segunda-feira (19). A colisão transversal, segunda colocada na lista, ocorreu em 365 acidentes. Já a saída da pista, com 321 registros, vitimou recentemente Dilson Farias, de 58 anos, que morreu na noite do dia 18 na BR-285, em Caseiros. Outras causas com grande número de incidências, conforme o estudo, são atropelamento de pedestre e colisão traseira.

A culpa nem sempre é do motorista

O balanço também indexa as prováveis causas de acidentes graves, sendo que a mais recorrente é a falta de atenção do condutor, que ocorreu em 729 casos, e a desobediência às normas de trânsito pelo condutor, com 334 ocorrências. Velocidade incompatível, falta de atenção do pedestre e ingestão de álcool também estão entre as causas mais recorrentes.

Segundo o chefe do núcleo de operações da PRF de Sarandi (sede da 14a Delegacia da PRF), Cleverson Batista, as causas dos acidentes na região estão geralmente associadas à conduta do motorista. Na maioria dos casos, destaca Batista, resultando em colisões frontais, um tipo de acidente que pode levar pessoas à morte.

Mas Marcolan discorda: para ele, boa parte das colisões frontais são causadas por rodovias mal planejadas. “Quem está na estrada, em algum momento vai ultrapassar, ou vai ser ultrapassado. Então, a ultrapassagem é natural e faz parte do tráfego. É impossível conceber que alguém vá de Passo Fundo a Porto Alegre, sem ter uma possibilidade de ultrapassagem. Então alegar que dirigir com segurança é não ultrapassar não existe, deve-se sim ter a possibilidade de fazer a manobra com segurança. Na BR-386, por exemplo, que é uma rodovia supermovimentada, em algum momento ela deve ter um local que dê condições para que se faça a ultrapassagem. Muitas vezes esses acidentes não são questões de imprudência, e sim porque existe um número de veículos na pista que hoje é muito grande, e atualmente boa parte do trecho não dá condições para que haja um fluxo adequado para toda essa quantidade de automóveis”.

Batista defende que para frear os índices, os agentes têm utilizado radares móveis em pontos onde há maior número de acidentes, aumentando a fiscalização. Já o professor da UPF aponta que muitos carros teriam condições de ultrapassagem em velocidade constante, se a estrada permitisse tal manobra. “Hoje, os veículos são projetados com sistemas de segurança muito melhores do que era nas décadas em que essas estradas foram planejadas. Um carro atual conduzido a 120 km/h tem muito mais chances de trafegar sem oferecer riscos, do que um veículo de 30 anos atrás andando a 70 km/h”.

Melhoras necessárias

Para Marcolan, as constantes reformas nas rodovias não estão resolvendo o problema. “Refazer a estrada também pode não adiantar, já que, mesmo melhorando as condições, o número de veículos não vai diminuir, e sim, só tende a aumentar. Então, ou faz uma rota alternativa, ou duplica a rodovia. E mesmo duplicada, é necessário, em determinados momentos, criar condições para a ultrapassagem. O risco de acidente em uma longa fila de automóveis é muito maior do que uma situação em que o veículo trafegue com mais liberdade, pois a visão da pista e a sensação de espaço e locomoção em um caso assim é muito maior”, alega o professor de Engenharia de Produção Mecânica.

O chefe de operações da PRF de Sarandi concorda em alguns pontos, mas reitera a responsabilidade do motorista. “Para conseguirmos ter sucesso na redução de acidentes precisaríamos de pelo menos três coisas andando como que em tripé. A primeira é a condição da infraestrutura viária, no tocante às boas condições da pista, sinalização, duplicação; segundo, a atenção do motorista, quanto a dirigir o veículo atendendo aos itens de segurança: usando cinto, criança na cadeira, não bebendo, sendo prudente; e o terceiro é manter a boa conservação do veículo, com o cuidado dos pneus, mantendo o sistema de iluminação em bom estado e utilizando a sinalização correta” frisa o policial.

Fonte: Jornal Diário da Manhã/ Passo Fundo

Relatório da PRF indica que as colisões frontais são os acidentes mais recorrentes (Foto Arquivo / Diário)

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