Em crise e com inflação acima de 100%, Argentina compra avião presidencial de R$ 124,6 mi
O novo avião presidencial argentino, o ARG-01, chegou na última quinta-feira (25) ao país, no aeroporto Jorge Newbery. Polêmico desde o anúncio de que seria comprado, o Boeing 757-256, modelo fabricado em 2000, custou cerca de US$ 25 milhões (R$ 124,6 milhões).
A aeronave, pintada com listras azuis claras e o icônico sol bicentenário, decolou do aeroporto de Miami às 7h39 e, após às 17h20, pousou na Argentina, depois de uma manobra arriscada. Doze minutos antes da aterragem efetiva, a nova aquisição do presidente Alberto Fernández desceu a poucos metros da pista e chegou a voar a 45 metros do solo.
Com a chegada do avião, terminará o reinado do modelo Tango-01, considerado um ícone dos anos 1990. No entanto, engana-se quem acredita que haverá grandes mudanças, pois o ARG-01 é da mesma família de aeronaves e tão luxuoso quanto o antecessor.
Apesar disso, o novo modelo — que comporta 39 passageiros, tem um quarto principal com todas as comodidades e outros dois quartos de hóspedes — não terá a matrícula do Tango, como todos os aviões que compunham a frota presidencial.
A identificação da aeronave como ARG-01 é baseada na profunda desconfiança que existiu historicamente entre qualquer uma das quatro versões do kirchnerismo e as Forças Armadas. Assim, a mudança esconde a decisão de abandonar qualquer relação entre a aeronave e a Aeronáutica, já que, na Argentina, o nome “T”, Tango, é uma placa militar para identificar aeronaves de transporte.
O agora ARG, que também inclui helicópteros e outros aviões que compõem a frota presidencial, terá toda a tripulação, a manutenção e a operação nas mãos de um colaborador da Casa Rosada.
Enquanto Alberto Fernández se preocupa em ter um novo avião de 25 milhões de dólares para os presidentes voarem, o índice de preços ao consumidor da Argentina subiu 7,7% em março ante fevereiro, com alta anual de 104,3%, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec). Assim, abril foi o 14º mês seguido em que a inflação oficial anual da Argentina teve alta.
O pagamento do valor do avião, porém, será dividido: 3 milhões de dólares serão abatidos com a entrega do antigo Tango-01 como parte do pagamento. Por sua vez, dos 22 milhões de dólares restantes, 12 milhões de dólares serão financiados por meio de um empréstimo de dez anos da Corporação Andina de Fomento, obtido pelo Ministério da Economia.
Há tempos que a economia argentina passa por uma crise, que só se agravou nos últimos anos. O país é dominado por uma corrente política histórica de esquerda chamada peronismo. De forma resumida, ela defende a intervenção do governo no mercado em relação à economia.
Quanto ao avião, não há coincidência na conveniência ou não da escolha. “É uma aeronave que daqui a alguns anos, 30 ou 35 anos, e com essa configuração, vai ter valor de mercado zero. É invendável”, disse uma fonte ao jornal argentino La Nación.
Várias pessoas concordam que a tecnologia e o custo por hora de voo são muito altos. “Um Boeing 737, que era o mais recomendado, gasta cerca de 8.000 dólares (cerca de R$ 40 mil) por hora, em vez de 14 mil dólares (aproximadamente R$ 70 mil), que é o custo aproximado desse”, disse outra pessoa.
R7