Perguntas e respostas sobre a possível suspensão de cronograma do Novo Ensino Médio
O anúncio de que o Ministério da Educação (MEC) pode suspender o cronograma de implementação do Novo Ensino Médio e, consequentemente, as mudanças em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 gerou uma série de dúvidas na população. Em entrevista a diferentes portais na segunda-feira (3), o ministro da Educação, Camilo Santana, falou sobre o tema e esclareceu alguns pontos.
Confira, abaixo, perguntas e respostas sobre a possível suspensão do cronograma:
O que é a reforma do Ensino Médio?
É uma mudança no formato do Ensino Médio, aprovada por lei em 2017, durante o governo do ex-presidente Michel Temer. Essa mudança trouxe novas disciplinas e tornou uma parte do currículo flexível para os estudantes. Com o novo modelo, parte das aulas será comum a todos os estudantes do país, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Na outra parte da formação, os próprios alunos poderão escolher um itinerário para aprofundar o aprendizado. Entre as opções, está dar ênfase, por exemplo, às áreas de Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas ou ao Ensino Técnico. A oferta de itinerários, entretanto, depende da capacidade das redes de ensino e das escolas.
Qual o cronograma da reforma?
O Ministério da Educação apresentou em julho de 2021 o cronograma de implementação do Novo Ensino Médio, que prevê a ampliação da carga horária de 2,4 mil horas para 3 mil horas letivas, ao longo dos três anos da etapa. A mudança começou em 2022, pelas turmas de primeiro ano. Em 2023, foi abrangido o segundo ano do Ensino Médio. O terceiro ano, por fim, seria contemplado em 2024. É esse cronograma que está em debate agora.
Qual o impacto no Enem?
Em 10 de fevereiro deste ano, o novo presidente do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), Manuel Palácios, anunciou que o Enem mudaria de formato em 2024. Assim, a prova deste ano seria a última em que todos os estudantes passam pela mesma avaliação. À época, Palácios informou que, nos meses seguintes, o órgão trabalharia para elaborar um exame que avaliasse não só o conteúdo comum, mas também as áreas específicas que agora fazem parte do Ensino Médio.
Como tem sido a aceitação de estudantes e professores?
A reforma do Ensino Médio divide opiniões. No início de março, entidades de trabalhadores da educação se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pedindo a revogação da política. No Rio Grande do Sul, estudantes, familiares, professores e funcionários criaram o Comitê Gaúcho pela Revogação do Novo Ensino Médio. Outra parcela de entidades educacionais e de pesquisadores é contrária à revogação, sob argumento de que o processo exigiu grande esforço e também obteve bons resultados. Uma nota da organização Todos pela Educação diz que a reforma “aponta para o caminho certo, mas precisa de ajustes para prosperar com mais qualidade e equidade”. O Conselho Nacional dos Secretários da Educação (Consed) também defende manter a reforma e trabalhar no sentido de fazer ajustes.
Por que o governo abriu uma consulta pública sobre o tema?
Diante das discussões, o MEC decidiu abrir uma consulta pública sobre o tema, por meio de uma portaria publicada em 9 de março. O objetivo seria “abrir o diálogo com a sociedade civil, a comunidade escolar, os profissionais do magistério, as equipes técnicas dos sistemas de ensino, os estudantes, os pesquisadores e os especialistas do campo da educação para a coleta de subsídios para a tomada de decisão do Ministério da Educação acerca dos atos normativos que regulamentam o Novo Ensino Médio”. O prazo para as manifestações é de 90 dias, com possibilidade de prorrogar esse tempo. Depois disso, são 30 dias para elaborar o relatório final a ser encaminhado ao ministro da Educação, Camilo Santana.
Qual a mais recente decisão do MEC sobre o Novo Ensino Médio?
Em entrevista ao Diário do Nordeste na segunda-feira (3), o ministro da Educação comentou sobre as críticas ao novo modelo e as estratégias que devem ser adotadas para obter um “consenso” em relação ao formato do Ensino Médio no Brasil. Em função do debate em torno do assunto, Santana também adiantou que a pasta poderá suspender as mudanças do Enem previstas para 2024 e os prazos de implementação da reforma.
— Não é só simplesmente chegar e revogar (o Novo Ensino Médio), é preciso discutir. É isso que nós precisamos fazer. Espero que nesses 90 dias da portaria, a gente possa ter uma decisão e deveremos suspender qualquer mudança no Enem em relação a 2024 por conta dessa questão do Novo Ensino Médio — disse o ministro.
— Isso (a determinação de que o Enem estivesse adaptado ao Novo Ensino Médio) será revisto com certeza. Nós pretendemos suspender esses prazos exatamente para que a gente possa tomar uma decisão em relação a quais serão as mudanças e qual será a decisão que vamos tomar — acrescentou.
O Enem deste ano sofrerá alguma alteração devido a esses debates?
Na mesma entrevista ao Diário do Nordeste, Santana ressaltou que o Enem não terá mudanças neste ano. Segundo ele, as alterações seriam apenas em 2024, já que lei previa que o exame precisava estar adaptado ao Novo Ensino Médio ao fim da implementação do modelo.
Como os prazos seriam suspensos?
A previsão é de que a suspensão do cronograma de implementação do Novo Ensino Médio seja determinada a partir da publicação de uma portaria, que deve ser divulgada nos próximos dias. Quando publicada, ela revogará um texto anterior, de 2021, que estabeleceu esses prazos e, como consequência, suspenderia também a necessidade de mudanças no Enem de 2024.
Essa suspensão significa a revogação do Novo Ensino Médio?
Não. O novo modelo foi instituído por lei e, para ser revogado, precisa passar pelo Congresso. A professora e diretora de Inovação e Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, Claudia Costin, reforça que a portaria apenas suspende a contagem do prazo enquanto houver a consulta pública.
— A suspensão da contagem do prazo tem um sentido lógico, especialmente porque o MEC foi completamente ausente no período de implementação, o que gerou experiências um pouco distorcidas com o Novo Ensino Médio. Mas as mudanças estão embasadas em uma lei. É possível mudar um cronograma estabelecido em lei por uma portaria? Isso teria que ser pacificado — analisa Claudia.
A suspensão do cronograma já está definida?
Ainda não há nenhuma definição oficial sobre a suspensão do cronograma. Em entrevista ao G1 na tarde de segunda, o ministro afirmou que se reuniria com a equipe em Brasília, nesta terça-feira (4), para avaliar melhor essa interrupção, e que a decisão final sobre o tema será tomada até o final das discussões do grupo de trabalho, que foi instituído pela portaria da consulta pública, com validade de 90 dias.
— A portaria que assinei tem aí entre 15 e 20 dias. Algumas medidas podem ser tomadas ao longo desse processo e uma delas é a possibilidade de suspender o calendário. Nós vamos avaliar — disse Santana.
Qual o impacto imediato para os alunos nas escolas?
A rotina dos estudantes que já estão tendo aulas com base no novo formato do Ensino Médio não deve ser alterada. As escolas públicas e privadas seguem oferecendo o currículo flexível, com os chamados itinerários formativos. Se o cronograma for efetivamente alterado, as provas do Enem poderiam deixar de ser modificadas em 2024.
E para os professores?
Por enquanto, também não há mudanças imediatas que devem impactar no planejamento das aulas, elaborados por professores do Ensino Médio.
*Com informações de agências e GZH