Todos os policiais a postos: NY se prepara para possível prisão de Trump
A possibilidade de prisão de Donald Trump fez com que todos os policiais de Nova York tenham ordens de usar uniforme e se preparar para o destacamento. Segundo a NBC News, a determinação surgiu em meio ao provável indiciamento de Donald Trump, que afirmou ter chances de ser encarcerado.
No sábado (18), Trump disse na rede social Truth Social que seria detido por comprar o silêncio de uma atriz pornô. Nesta terça-feira (21), o Departamento de Polícia de Nova York instalou cercas de metal em frente ao tribunal de Manhattan e à Trump Tower, na Quinta Avenida, prevendo uma chegada em massa de apoiadores do ex-presidente e uma possível prisão.
Apesar do alerta máximo da polícia e da movimentação de alguns manifestantes e jornalistas do lado de fora da promotoria de Manhattan, a defesa de Trump informou que a afirmação dele foi baseada em informações da imprensa, e não da acusação.
A acusação
Trump teria pago suborno à atriz pornô Stormy Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, para que ela ficasse em silêncio sobre ter feito sexo com ele.
O pagamento secreto de US$ 130 mil (cerca de R$ 679 mil) foi feito pelo advogado particular de Trump na época, Michael Cohen, antes das eleições de 2016.
A Justiça de Nova York quer determinar se Trump é culpado de ter dado declarações falsas do pagamento feito (um delito menor) ou de descumprir as leis sobre financiamento de campanhas (um delito penal). Michael Cohen, que efetuou o pagamento, já foi condenado a três anos de prisão, em 2018, e disse na época que pagou pelo silêncio por ordem do chefe e então candidato.
Trump diz que a investigação tem motivações políticas e nega envolvimento com Daniels. Se Trump for indiciado, será a primeira vez na história do país que um ex-presidente dos Estados Unidos é acusado por um crime na justiça.
O que pode acontecer se ele for indiciado
A investigação, comandada pela promotoria pública de NY, ouviu as últimas testemunhas na segunda (20). O próximo passo era dar a Trump a oportunidade de depor em defesa própria, mas ele se recusou.
Um grande júri analisou as provas para determinar se há evidência suficiente para seguir com o processo criminal, mas o grupo não tem poder de condenar ou absolver alguém.
Por isso, tudo indica que a investigação chegou ao fim e agora cabe ao promotor estadual Alvin Bragg indiciar ou não o ex-presidente. Ele ainda não se manifestou. Caso seja indiciado, Trump será obrigado a se apresentar para ouvir a acusação contra ele.
Se não aparecer voluntariamente, a justiça pode mandar prendê-lo. De qualquer forma, será fichado e terá de deixar as digitais e uma foto com as autoridades.
Seu advogado, Joseph Tacopina, já declarou que Trump compareceria diante da Justiça caso fosse indiciado -saindo de Palm Beach, Flórida, para Manhattan. A partir disso, começaria um processo que pode durar vários meses e que seguiria com a seleção do júri.
“Os promotores quase nunca convidam o alvo da investigação a depor diante do grande júri a menos que tenham a intenção de acusá-lo”, disse Bennett Gershman, ex-promotor e professor de direito da Universidade Pace à AFP.
Como seria a prisão
De imediato, não está claro como seria uma possível detenção -ou, mais provavelmente, sua entrega às autoridades- porque, além de ser ex-presidente, Trump não responderia por nada de natureza violenta.
Não existem precedentes ou regras, explica Robert McDonald, ex-agente do Serviço Secreto americano e agora professor de justiça penal na Universidade de New Haven. O Serviço Secreto deve coordenar com o escritório de Bragg para que Trump se apresente ao tribunal sem um “espetáculo”, diz McDonald. Ou seja, não chegará algemado pela porta principal da corte.
É provável que o juiz não considere que há risco de fuga e estipule fiança. Então, Trump não ficaria preso. “Mas alguns acreditam que o ex-presidente pode se negar a se entregar, desafiando o promotor a detê-lo.
Alguém pode imaginar que Trump esteja querendo fazer isso. Isso é algo que o escritório de Bragg estaria temendo”, afirma Shan Wu, ex-promotor .
O que está em jogo
Trump quer se tornar o candidato republicano nas eleições de 2024 e, para alguns analistas, está usando o caso para testar sua própria popularidade. É bem possível que Trump tenha que interromper a campanha outras vezes para responder a diversos processos em andamento. Mas, até agora, nenhum deles impede-o de concorrer novamente. Até preso ele tem o direito de disputar a Presidência.
Há quem acredite que esta acusação pode prejudicá-lo, mas também há quem alerte, inclusive democratas, para a chance de Trump conseguir promover o caos, como aconteceu no ataque ao Capitólio de 2021. A frase publicada por ele agora é parecida com a que usou no dia seis de janeiro de 2021.
Parte dos republicanos vê “perseguição” política contra o ex-presidente. O governador de New Hampshire, Chris Sununu, por exemplo, disse à CNN norte-americana que “isso está criando muita simpatia” por Trump e que pessoas que “não eram grandes apoiadores, sentiam que ele estava sendo atacado.”
Nas redes sociais, alguns apoiadores já se movimentam pedindo greve geral e convocando todos a parar o país. Mas o serviço de inteligência disse ter detectado conversas nas quais apoiadores dele se mostraram desconfiados, com medo de que possam cair em algum tipo de armadilha ao atender ao chamado de Trump.
FOLHAPRESS