Na Argentina, Lula defende moeda comum para reduzir dependência do dólar; especialistas criticam
Durante coletiva de imprensa com o presidente argentino, Alberto Fernández, o presidente Luiz Inácio Lula Silva (PT) defendeu, nesta segunda-feira (23), a criação de uma moeda comum entre os países sul-americanos e argumentou que a medida é impositiva para diminuir a “dependência do dólar”.
“Se dependesse de mim, a gente teria comércio exterior sempre nas moedas dos outros países para que a gente não tenha que ficar dependendo do dólar. Por que não tentar criar uma moeda comum entre os países do Mercosul? Assim como se tentou fazer com os países do Bric”, disse Lula.
“E eu acho que, com o tempo, isso vai acontecer. Eu acho que é necessário que aconteça, porque muitas vezes tem países que tem dificuldade de adquirir dólar, e você pode fazer acordo, estabelecer um tipo de moeda para o comércio, em que os Bancos Centrais, todo mês ou em quanto tempo quiser, façam um acordo de contas para que os países continuem a fazer o negócio”, acrescentou.
Para o especialista em finanças Marcos Sarmento, a adoção de uma moeda única não seria uma proposta viável para os próximos quatro anos, já que depende da definição de diversos parâmetros “objetivos e rigorosos” dos países que queiram aderir à ideia.
“Apostaria que não vai acontecer. É um processo muito demorado e complexo. Talvez possa haver algum tipo de facilitação de troca entre esses países, mas uma mudança assim demoraria anos”, afirmou.
Especialista em direito econômico e finanças, o advogado Fabiano Jantalia explica que a medida traria muito mais riscos do que benefícios ao Brasil.
“Há o risco de [o país] se tornar o grande amparo econômico das demais nações do Mercosul. Hoje já respondemos por grande parte do volume de negócios em comércio exterior firmados pelos países do bloco. É preciso considerar também que estamos em um estágio de gestão fiscal muito mais avançado e temos uma pauta de exportações que nos deixa pouco dependentes dos demais países”, contou.
Autoridades do Brasil e da Argentina assinaram, nesta segunda-feira (23), ao menos sete atos que envolvem a cooperação entre os dois países. Somadas, as nações representam cerca de dois terços do território, da população e do PIB da América do Sul.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, o Brasil é o principal sócio comercial da Argentina, enquanto o país vizinho é o terceiro principal destino das exportações e a terceira principal origem das importações brasileiras.
Confira os acordos assinados:
1 – Carta de Intenções para o Projeto de Integração da Produção de Defesa Brasil-Argentina
Autoridade brasileira: ministro de Estado das Relações Exteriores, Mauro Vieira
Autoridade argentina: ministro da Defesa, Jorge Taiana
2 – Declaração sobre Cooperação entre Ministérios da Saúde
Autoridade brasileira: ministra de Estado da Saúde, Nísia Trindade
Autoridade argentina: ministra da Saúde, Carla Vizziotti
3 – Programa Binacional de Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2023-2024
Autoridade brasileira: ministra de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos
Autoridade argentina: ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação da República Argentina, Daniel Filmus
4 – Memorando de Entendimento entre Ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação sobre Cooperação Científica em Ciência Oceânica
Autoridade brasileira: ministra de Estado da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos
Autoridade argentina: ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Daniel Filmus
5 – Memorando de Entendimento sobre Integração Financeira
Autoridade brasileira: ministro de Estado da Fazenda, Fernando Haddad
Autoridade argentina: ministro da Economia, Sergio Massa
6 – Acordo de Cooperação Antártica
Autoridade brasileira: ministro de Estado das Relações Exteriores, Mauro Vieira
Autoridade argentina: ministro das Relações Exteriores, Comércio Internacional e Culto
7- Declaração conjunta
Autoridade brasileira: presidente da Nação, Lula
Autoridade argentina: presidente da República, Alberto Fernández
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