Sábado, 26 de Outubro de 2024
Telefone: (54) 3383 3400
Whatsapp: (54) 9 9999-7374
Curta nossa página no Facebook:
Clique para Ouvir
Tempo limpo
25°
13°
17°C
Espumoso/RS
Tempo limpo
No ar: Especial Sertanejo
Ao Vivo: Especial Sertanejo
Notícias

Um mês após distanciamento controlado, média de novos casos por dia triplica no RS

Um mês após distanciamento controlado, média de novos casos por dia triplica no RS
12.06.2020 06h41  /  Postado por: Roger Nicolini

Com 316 mortos e 13,6 mil pessoas oficialmente contaminadas com coronavírus, o Rio Grande do Sul não está em situação tão complicada como outros Estados, mas recordes diários em casos, mortes e internações hospitalares de algumas cidades estão obrigando as autoridades a reverem estratégias do modelo de distanciamento controlado, criado para enfrentar a pandemia.

Um mês após a implantação da estratégia, iniciada em 11 de maio, a média de novos casos quase triplicou em comparação aos 30 dias anteriores à aplicação do modelo de bandeiras: passou de 110,6 novos casos por dia para 292,5, mostra análise de GaúchaZH sobre dados da Secretaria Estadual da Saúde (SES) desta quarta-feira (10).

As estatísticas são baseadas na data de confirmação (quando o exame fica pronto). À medida que saem os resultados de testes mais recentes, os números dos últimos dias podem ser atualizados e sofrer elevação. Na quarta-feira, o Rio Grande do Sul registrou 840 novas infecções, um recorde em um único dia.

Crescimento pequeno ocorreu com mortos por coronavírus. A média de vítimas diárias um mês após o distanciamento controlado é de 5,3 por dia – no mesmo intervalo de tempo antes da estratégia, 4,5 pessoas morriam por dia. Nesta quarta-feira, foram registradas 14 novas mortes no Rio Grande do Sul, outro recorde.

Na outra ponta, maio teve aumento de hospitalizações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Neste momento, 72,5% dos leitos de UTI do Rio Grande do Sul estão ocupados – destes, 24,5% são usados para tratar suspeitos ou confirmados para coronavírus.

Em boletim epidemiológico desta semana, a Secretaria Estadual da Saúde informou que o coronavírus agora está chegando à população menos escolarizada. Movimento semelhante já ocorre na Capital.

Porto Alegre bateu recorde nesta semana em número de internações por coronavírus em UTIs: na manhã desta quinta-feira (11), 81,5% dos leitos estavam ocupados – acima de 80%, o sinal de alerta é aceso. Em resposta, o prefeito Nelson Marchezan já suspendeu a abertura de novas atividades, mantendo o que já estava aberto.

Especialistas consultados pela reportagem apontam, em consenso, que a principal causa para a deterioração do cenário é a volta de atividades proporcionada pelo distanciamento controlado do Piratini – algo esperado pelo próprio governo, que planeja que a população conviva com o vírus. No entanto, médicos elogiam a possibilidade de adaptação da estratégia e afirmam que a piora pode ser revertida se a política se prestar ao que se propõe: endurecer as restrições onde for necessário para conter o avanço do coronavírus.

Caso o ritmo da epidemia siga como está hoje, o médico e professor de Infectologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki vê risco de falta de vagas em hospitais.

— Não tenho muita dúvida de que vemos hoje o impacto das medidas de flexibilização em um momento no qual a curva crescia, ainda que de forma lenta. Os riscos agora são chegar a níveis mais críticos de lotação de leitos. Como, desde o fim de maio, deixamos de considerar o número de casos na modificação de bandeiras, o risco é termos, nas próximas duas a três semanas, uma leva de novas infecções não contabilizadas para a flexibilização — afirma.

Cinco regiões, em específico, preocupam o Piratini e podem mudar para bandeira vermelha, de risco: Erechim, Novo Hamburgo, Palmeira das Missões, Santa Maria e Taquara, que envolvem dezenas de municípios.

A classificação de bandeiras é a principal arma do Piratini contra a epidemia. Ao mesmo tempo, o governador Eduardo Leite tomou ação que enfraquece a medida, ao permitir a possibilidade de municípios retomarem atividades, se o Estado aprovar o plano municipal.

Em Lajeado, com uma das maiores incidências de covid-19 do Estado, bufês em restaurantes foram abertos na terça-feira – a medida posteriormente foi revogada, após o governo estadual afirmar que a cidade foi além do permitido.

Para além disso, o Piratini endureceu critérios de classificação das regiões. A decisão ocorre após reportagem de GaúchaZH mostrar que os indicadores dificultam a passagem para bandeiras vermelha ou preta.

A Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag) declinou o pedido de entrevista com porta-voz, mas informou que o governo já estudava ajustes nos critérios de classificação das regiões.

Na terça-feira (9), a coordenadora do Comitê de Dados do governo, Leany Lemos, afirmou a GaúchaZH que o Piratini “irá rever indicadores”, destacando que a estratégia é inovadora e, portanto, está sujeita a avaliações. Ela afirmou que, em algumas regiões, “o alerta não está soando como deveria”.

Para a professora de Epidemiologia e reitora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Lucia Pellanda, o principal indicador de deterioração no Estado é a lotação de UTIs, junto com surtos, em cidades como Porto Alegre, e a contaminação de profissionais da saúde – caso do Hospital Santa Ana. Ela alerta que a população precisa ter consciência de que, hoje, há mais risco de contaminar-se.

— Não liberou geral. O comportamento normal como era em 2019 não vai acontecer em 2020. À medida que aumenta a circulação do vírus, a gente precisa cuidar ainda mais e a população deve se engajar mais. Buffet é um absurdo, as pessoas não se protegem com álcool em gel. Se tu pegar uma foto do dia das Mães na Orla: a gente, que é médico, olha e diz: “um mês depois a UTI vai lotar”. Pois, então, um mês depois, a gente está aqui, com maior lotação das UTIs — afirma Lucia.

Na visão do epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, gerente de risco do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, para além da flexibilização de atividades, contribuem para o aumento nas estatísticas a expansão da testagem para pessoas não graves em certas cidades (como em Porto Alegre), a identificação de surtos em frigoríficos, asilos e presídios e a própria interiorização da epidemia. Ao mesmo tempo, ele chama a atenção para a responsabilidade de prefeituras e empresários:

— Para além de olhar ao sistema de bandeiras e tentar aperfeiçoá-lo, é necessário que prefeitos e lideranças locais se deem conta de que é preciso ser mais capaz de manter o distanciamento. As modificações possibilitadas pelo distanciamento controlado não podem ser confundidas como retomada ampla, geral e irrestrita de todas as atividades. A impressão que temos é de que a preocupação é muito maior em limpar ambientes com álcool em gel e menos no componente interpessoal. Não é o sistema de bandeiras que vai garantir que as pessoas vão aderir, mas prefeitos, empresários e lideranças comunitárias. Falta um pouco o componente comunitário — diz o médico.

FONTE E FOTO: GAÚCHA ZH

Comente essa notícia
Receba nosso informativo
diretamente em seu e-mail.
Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
CONCORDO