ete anos depois, a voz ainda fica trêmula ao recontar a história. Em 6 de março de 2012, Raquel Fior, 34 anos, foi privada do convívio com os pais, o casal Milton e Normélia Fior, mortos em um acidente de trânsito na RS-223, em Ibirubá, no noroeste do Estado. Desde então, ela e a irmã, Bárbara, 30, decidiram transformar dor em lição para motoristas e lutar judicialmente pelo defendem que poderia ter sido evitado:
— Uma dificuldade que se tem é que acidentes de trânsito muitas vezes não são tratados como crime, mas há muitos deles que poderiam ter sido evitados. Esse é um exemplo. Ele (o condutor condenado por causar a colisão) assumiu o risco de matar, tanto que matou — defende Raquel.
— Nossa luta foi para que (o caso) fosse tratado assim desde o começo: foi essa a conclusão do inquérito (comandado pela Polícia Civil), e, agora, foi assim que o júri entendeu — complementou.
O condutor que Raquel se refere é Helmuth Edvino Horst, que, nesta terça-feira (16), foi condenado a 73 anos e 11 meses de prisão por um júri de sete pessoas, por ter provocado o acidente que matou Milton e Normélia.
Na colisão, Fábio Loser, 28 anos, um dos passageiros do veículo de Horst, também morreu. Conforme o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o motorista foi indiciado por homicídio qualificado e simples e duas tentativas de homicídio. Ele pode recorrer da decisão, mas não em liberdade: está preso desde maio.
— Depois da sentença, sabemos que o fato de terem partido não foi em vão. Agora, a gente sente que pode haver uma mudança, que as pessoas reflitam e não usem seus carros como armas. Desde o acidente, a gente tentava achar um jeito de contribuir para isso — conta. — Nosso coração está mais tranquilo. Mas, com certeza, há uma diferença enorme entre quem éramos (ela e a irmã) e quem somos hoje.
Raquel, que hoje mora no Paraná e trabalha como tabeliã, lembra os detalhes do último dia que passou com os pais. Um dia antes, ela tinha voltado de viagem com o casal. Resolveu passar aquela semana em Carazinho, onde os pais moravam, “para aproveitar”.
— A última vez que eu vi o pai, eu lembro direitinho, era umas 7h30min e eu estava saindo (de casa). Ele estava de chinelinho, segurando uma xícara de café, me deu um beijo. A mãe também estava ali, conversando.
Naquela noite, o casal foi para o aniversário de um familiar em Ibirubá. Na volta, ocorreu o acidente.
À reportagem, o Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmou que um laudo feito na época indicou que, na rodovia estadual, o carro de Horst trafegava a 196,7 km/h. Segundo Raquel, outro laudo também teria apontado que o condutor teria bebido.
— Eles (Normélia e Milton) estavam voltando de um aniversário, era verão e estava calor. O teste de alcoolemia feito neles apontou que não ingeriram uma gota de álcool. O IGP também indicou que o telefone deles estava guardado. Eles fizeram tudo certo — diz.
Fonte e foto: Gaúcha ZH