Autoridades ambientais discutem medidas após suposto ataque de cobra no norte do RS
Autoridades estaduais e federais vinculadas a órgãos de meio ambiente se reuniram na tarde desta terça-feira (2) para discutir medidas e precauções a serem adotadas após a morte de Guilherme da Silva Andrade, 12 anos, cujo corpo foi encontrado no primeiro dia de 2018 no Rio Teixeira, em Ipiranga do Sul, no norte do Estado.
A agenda entre representantes do Ibama, do Comando Ambiental da Brigada Militar (CABM) e da Fundação Zoobotânica foi motivada pelos relatos de familiares que dizem terem visto uma cobra de grande porte atacar Guilherme, supostamente se enrolando no corpo do adolescente e o puxando para dentro do rio.
O laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP), divulgado nesta terça, indicou o afogamento como a única causa da morte. Não foram detectadas pelo médico-legista marcas de mordidas de répteis, e os ossos não estavam fraturados.
Superintendente do Ibama em exercício, Paulo Wagner diz que a reunião serviu para “nivelar informações e avaliar os próximos passos”.
A Patrulha Ambiental da BM (Patram) está no Rio Teixeira fazendo buscas e entrevistando pessoas que afirmam ter visto a cobra, como Nedomir Sal, tio da vítima, que chegou a descrever as características da cabeça do animal.
— Vamos permanecer com equipes na região pelo menos até quinta-feira para fazer buscar a répteis de grande porte — informa o coronel Vitor Hugo Cordeiro Konarzewski, comandante do CABM.
Até o final desta semana, os órgãos ambientais deverão ter novo encontro para analisar as informações recolhidas e estudar a necessidade de tomar novas iniciativas.
— Uma das hipóteses é prolongar as buscas no curso deste rio, que desagua no Jacuí — explica Paulo Wagner.
Embora atribua relevância ao caso, cujo desfecho foi a morte de um menino, ele destaca que cobras de grande porte não são comuns no Rio Grande do Sul.
— É um rio (Teixeira) que tem entre sete e oito metros de largura e está com baixa vazão. Não suporta uma população de sucuri ou de píton, que é uma cobra exótica. Para arrastar um menino para dentro de um rio, precisa ser um animal grande, com quatro ou cinco metros de comprimento. Um ofídio desse porte seria encontrado se estivesse lá — relata.
Apesar das ressalvas, o técnico do Ibama diz que a ação do homem já trouxe ao Estado espécies que são originárias de outras regiões do Brasil e do mundo. No caso de Ipiranga do Sul, o relato de moradores é de que cobras teriam sido trazidas duas décadas atrás por um homem que viajou para o Mato Grosso. Elas teriam sido criadas num açude, que se rompeu.
— Não estamos colocando ninguém em suspeição, mas não se espera encontrar esse tipo de animal naquela região. Por outro lado, não é impossível que alguém tenha levado. Por isso, não descartamos. Aqui no Rio Grande do Sul, já registramos informações sobre a presença de sucuri no Rio Uruguai. Mas essa região de Ipiranga do Sul não é cruzada pelo Rio Uruguai — informa Wagner.
Os primeiros relatos que surgiram foram de que o menino teria sofrido fraturas múltiplas pela ação da cobra, que teria se enrolado nele antes de puxá-lo ao manancial. O laudo pericial, contudo, indicou que as lesões não aconteceram.
O superintendente do Ibama explica que as serpentes constritoras – como são chamadas as espécies que se enlaçam nas presas para exercer pressão – acabam ocasionando a morte do alvo por asfixia, e não por lesões ósseas. O objetivo de neutralizar a vítima é mais rapidamente alcançado quando o réptil consegue também puxar o corpo para dentro da água, onde o afogamento se soma à dificuldade de respirar imposta pela constrição.