Com uma carta de 24 linhas, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati formalizou nesta segunda-feira (27) sua saída do PDT depois de 16 anos. É o desfecho — previsível — de uma crise que começou quando ainda era prefeito e que se agravou nos últimos meses. A gota d’água foi o boicote da direção a seu projeto de concorrer ao Senado.
— Aconteceram outros episódios ao longo do ano, que foram me afastando da direção do partido, mas não quero falar sobre isso. Não seria ético — diz Fortunati.
O ex-prefeito já não tinha clima para continuar no PDT. O presidente nacional, Carlos Lupi, dizia para quem quisesse ouvir que já o considerava carta fora do baralho. A relação com o presidente estadual, Pompeo de Mattos, não poderia ser pior. O diálogo com outro líder histórico do PDT, o ex-deputado Vieira da Cunha, tinha se tornado impossível desde que Fortunati expressou sua preferência pela aliança com Sebastião Melo, em detrimento da candidatura própria. O ex-prefeito se defende:
— Eu sempre disse ao Vieira que para ser candidato ele precisava construir uma aliança sólida. Esse era um papel dele, não meu. Nunca escondi que preferia apoiar Melo, em retribuição ao apoio que recebemos do PMDB em 2012 e porque ele foi o vice que qualquer um gostaria de ter: fiel e trabalhador.
Pompeo avalia que Fortunati se precipitou ou “já tinha algo organizado” ao encaminhar a desfiliação. O presidente estadual conta que, ao saber da pretensão do ex-prefeito em concorrer ao Senado, Romildo Bolzan e Vieira da Cunha foram questionados se também queriam concorrer à vaga internamente:
– Como nenhum dos dois quis ser candidato, hoje (ontem) nos reunimos e decidimos que Fortunati seria o indicado na convenção do PDT no dia 16 de dezembro. Logo depois veio a carta, fomos surpreendidos.
O PDT nunca o perdoou por ter trabalhado pela aliança com Melo, mas as divergências são anteriores. Na prefeitura, Fortunati foi boicotado pelos vereadores do próprio partido em votações estratégicas e passou boa parte do mandato licenciado do PDT.
Fortunati ainda não sabe para onde vai. Diz que tem vários convites, mas pretende analisar o cenário com calma e tomar uma decisão perto do mês de março, prazo derradeiro para a filiação de quem pretende concorrer em 2018. O PR ofereceu-lhe a vaga de candidato ao Senado, mas antes de assumir qualquer compromisso Fortunati quer se certificar de que não há risco de o partido dar guarida a Jair Bolsonaro. A única certeza do ex-prefeito é de que não será candidato a deputado:
— Ou concorro ao Senado, ou não serei candidato a nada.
Aliás
A desidratação do PDT gaúcho começou em 2016. Além de Fortunati, o partido perdeu o senador Lasier Martins, o deputado Giovani Cherini e três vereadores em Porto Alegre.