Safra ruim de trigo nacional pode elevar preço do pão
O mau resultado colhido no campo na safra de inverno pode se transformar em preço maior para o consumidor. Com demanda superior ao consumo, o Brasil tradicionalmente precisa trazer de fora parte do trigo utilizado pelos moinhos.
Neste ano, no entanto, a quebra na produção nacional obrigará o país a pesar a mão nas importações do produto. Tanto que o Ministério da Agricultura encaminhou nota técnica com sugestão de isenção da Tarifa Externa Comum (TEC) para volume de 750 mil toneladas. O imposto é cobrado para trigo vindo de fora do Mercosul. O argumento será avaliado pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), na próxima reunião, prevista para o dia 8.
As contas justificam essa necessidade. Se no ano passado o Brasil colheu 6,72 milhões de toneladas do cereal, neste ano o clima prejudicou as lavouras nos Estados produtores e o impacto aparecerá no volume final. Por enquanto, com a colheita ainda em andamento no Rio Grande do Sul, a projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de 4,88 milhões de toneladas.
Para a consultoria Trigo & Farinhas, a soma é similar e não deve passar de 4,9 milhões de toneladas. A equação complica porque boa parte do trigo colhido não tem qualidade e precisará ser destinada à ração ou à exportação – a estimativa é de que 30% seja de triguilho. Segundo o analista sênior Luiz Carlos Pacheco, isso deixa entre 3,5 milhões e 3,7 milhões de toneladas para os moinhos. O país teria de importar mais 7 milhões de toneladas para fechar a conta.
Nosso principal fornecedor no Mercosul, a Argentina vendeu na última safra 4,5 milhões de toneladas, mas neste ano também sentiu os efeitos do clima. O Paraguai só deve colher para consumo interno.
– Entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas terão de vir de fora do bloco – observa Pacheco.
Por isso, o governo já se adianta no pedido de isenção. Mesmo com a tarifa zerada, o trigo importado ainda chegará mais caro do que o nacional. E essa diferença deve cair na mesa do consumidor.