Milionário assume mandato de Delcídio sem nunca ter recebido um voto

Aos 75 anos, o empresário Pedro Chaves dos Santos Filho vai assumir o mandato no Senado sem nunca ter recebido um voto na vida e na condição de dono da quarta maior fortuna declarada entre todos os 81 senadores. O suplente de Delcídio do Amaral (MS), cuja cassação do mandato foi aprovada pelo Plenário nesta terça-feira (10), declarou em 2010 à Justiça eleitoral possuir uma fortuna de R$ 69 milhões (valor não atualizado). O empresário nunca foi candidato a qualquer cargo eletivo e só ingressou na política em 2010 ao aceitar o convite de Delcídio para ser seu primeiro suplente.
Dos atuais integrantes do Senado, apenas Tasso Jereissati (PSDB-CE), com R$ 389 milhões, Blairo Maggi (PR-MT), com R$ 152,4 milhões, e Eunício Oliveira (PMDB-CE), com R$ 99 milhões, informaram possuir patrimônio superior. Entre os bens declarados por Chaves, terras, imóveis, três apartamentos no Rio, dois aviões Cessna, quota de R$ 962 mil da Mace, importante grupo educacional de Mato Grosso do Sul, e investimento bancário de R$ 30,6 milhões.
Além de Delcídio, o empresário filiado ao PSC mantém relações estreitas com outro acusado de envolvimento no esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, o também empresário e pecuarista sul-mato-grossense José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula. Bumlai foi preso em 24 de novembro, um dia antes do então líder do governo no Senado, acusado de participar de um esquema de corrupção e fraude para pagar dívidas de campanha da reeleição da presidente Dilma. Neca Chaves, filha do suplente de Delcídio, é casada com Fernando Bumlai, herdeiro do pecuarista.
“Enorme identificação”
Em mensagem publicada no site de Delcídio na época da campanha, Chaves dizia ter “enorme identificação” com o companheiro de chapa. “Nunca pensei em entrar para a política, mas o convite me deixou sensibilizado a participar, especialmente porque sei que, juntos, poderemos tocar grandes projetos na área de educação e formação de mão de obra, para que o nosso Estado continue crescendo e se desenvolvendo”, afirmou em 2010.
Naquele ano, o empresário declarou à Justiça eleitoral ter doado como pessoa física R$ 350 mil à campanha de Delcídio. A mulher dele, Reni Domingos, doou outros R$ 350 mil. Em 2014, Pedro Chaves coordenou a campanha de Delcídio do Amaral ao governo de Mato Grosso do Sul. A disputa foi vencida pelo tucano Reinaldo Azambuja. Se Delcídio tivesse sido eleito governador, Chaves teria quatro anos de mandato no Senado, mesmo sem ter recebido um único voto.
O empresário e educador começou sua trajetória como diretor da escola Mace em 1971. Três anos depois, criou o Centro de Ensino Superior de Campo Grande (Cesup), transformado na década de 90 na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp). Em 2007 o empresário vendeu a Uniderp por R$ 246 milhões ao grupo Anhanguera, de São Paulo.
A cassação do mandato do senador Delcídio do Amaral (MS) a Casa terá dez senadores que não receberam diretamente qualquer voto para representar seus estados. Destes, apenas Donizeti Nogueira (PT-TO), que substitui desde o início do ano passado a senadora licenciada Kátia Abreu (PMDB-TO) enquanto ela comanda o Ministério da Agricultura, está sujeito a voltar para casa a qualquer momento.
Os outros nove têm direito a exercer plenamente o mandato até o derradeiro dia. Por diferentes motivos, viraram titulares. Além de Pedro Chaves, Wilder Morais (PP-GO) também foi alçado ao Senado devido à cassação do mandato do titular, no caso, Demóstenes Torres (GO), em 2012. Três senadores herdaram, literalmente, a vaga com a morte dos colegas de chapa: Zezé Perrella (PTB-MG), Ataídes Oliveira (PSDB-TO) e Dalírio Beber (PSDB-SC). Eles seguem o mandato para o qual foram eleitos os senadores Itamar Franco (PPS-MG), falecido em 2011, João Ribeiro (PR-TO), morto em 2013, e Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), que morreu no ano passado.
Primeiro suplente de Itamar, Perrella herdou sete anos de mandato no Senado mesmo ter sido votado. O ex-presidente da República voltou ao Senado em fevereiro de 2011 e faleceu em julho daquele mesmo ano. Ele só conseguiu cumprir seis meses dos oito anos para os quais havia sido eleito. Como mostrou a Revista Congresso em Foco, o senador mineiro foi o segundo mais ausente em 2015: deixou de comparecer a 48 das 127 sessões reservadas a votações no período. Ou seja, mais de um terço dos dias em que a presença era obrigatória na Casa.
Presidente da comissão especial do impeachment, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) foi efetivado no mandato em 2014 com a ida do titular Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB) para o Tribunal de Contas da União (TCU). Embora possam alegar que foram votados juntamente com os titulares, os suplentes raramente têm visibilidade na campanha eleitoral. Muitos são convidados para a suplência por motivos eleitorais, seja para atingir determinado eleitorado, seja para financiar a eleição.
Veja a relação dos senadores que chegaram ao Senado pela suplência:
Ataídes Oliveira (PSDB-TO) – assumiu o mandato em 2013 com a morte de João Ribeiro (PR-TO)
Dalírio Beber (PSDB-SC) – assumiu o mandato em 2015 com a morte de Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC)
Donizeti Nogueira (PT-TO) – exerce o mandato até a volta da titular, Kátia Abreu, atual ministra da Agricultura
Hélio José (PMDB-DF) – assumiu o mandato em 2015 com a eleição de Rodrigo Rollemberg (PSB) como governador do Distrito Federal
José Medeiros (PSD-MT) – assumiu o mandato em 2015 com a eleição de Pedro Taques (PSDB) como governador de Mato Grosso
Pedro Chaves (PSC-MS) – assumirá o mandato com a cassação de Delcídio do Amaral (MS)
Raimundo Lira (PMDB-PB) – assumiu o mandato em 2014 com a nomeação de Vital do Rêgo Filho como ministro do Tribunal de Contas da União
Regina Sousa (PT-PI) – assumiu o mandato em 2015 com a eleição de Wellington Dias (PT) como governador do Piauí
Wilder Morais (PP-GO) – assumiu o mandato em 2012 no lugar de Demóstenes Torres (GO), cassado pelo Plenário
Zezé Perrella (PTB-MG) – assumiu o mandato em 2011 com a morte de Itamar Franco (PPS-MG)