Morte dos Mamonas Assassinas faz 20 anos: \’Não vou discutir com Deus\’
Após 20 anos do acidente aéreo que causou a morte dos cinco integrantes dosMamonas Assassinas, a família de Dinho, o vocalista da banda, diz ter aprendido a conviver com a dor da perda. “Eles vieram trazer alegria, e a gente teve que aprender a conviver com isso. Separar a tristeza da alegria, que não é fácil”, afirmou Célia Alves.
“O mesmo Deus que permitiu a eles fazerem aquele sucesso todo olhou para eles e disse: ‘Meninos, vocês são bons, só que chegou o tempo. Olha, venham todos vocês. E levou. A gente não vai discutir com Deus. Deus é Deus e a gente é ser humano”, afirmou a mãe de dinho. A aposentada de 62 anos é evangélica e frequenta a igreja Assembleia de Deus.
AcidenteO tempo estava fechado na Grande São Paulo na noite de 2 de março de 1996, um sábado. Uma espessa neblina cobria parte da Serra da Cantareira quando, por volta das 23h15, um jato executivo Learjet avançou por sobre as árvores, atravessou a cortina de névoa fria e colidiu na mata. Os nove ocupantes morreram: os dois tripulantes, um segurança, um assistente de palco e os cinco jovens músicos dos Mamonas Assassinas.
Alecsander Alves (Dinho), de 24 anos, vocalista e líder da banda; Alberto Hinoto (Bento), de 26, guitarrista; Júlio Cesar Barbosa (Júlio Rasec), de 28, tecladista; e os irmãos Samuel e Sérgio Reis de Oliveira (Samuel e Sérgio Reoli), de 22 e 26, respectivamente baixista e baterista, voltavam de um show em Brasília, o último de uma exaustiva turnê pelo país. No mesmo avião estavam o piloto, Jorge Martins, o copiloto, Alberto Takeda, e dois funcionários da banda: o segurança Sérgio Saturnino Porto e o roadie (e primo de Dinho) Isaac Souto.
Naquela noite, os pais de Dinho foram, a pedido do filho, busca-lo no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo (mesma cidade onde toda a banda vivia). Em entrevista aoG1, a dona de casa Célia Alves, de 62 anos, lembrou a agonia da espera pelo filho.
“Ficamos esperando, de olho naquela bendita porta que se abre, e achei estranho a demora.” Ao lado do marido, Hidelbrando Alves, e da namorada do filho, Valéria Zopello, ela notou que a preocupação tomava o semblante dos três. “Pensei: ‘Poxa vida, esse avião vai descer com esse tempo?’ Falei: ‘Ah, vou tirar esse pensamento da cabeça. Isso não é bom’. Pedia a Deus que ele chegasse bem.”
Depois de algumas horas, o casal foi até o balcão de informações do aeroporto. “Eu perguntei e disseram que parecia que o avião tinha um probleminha. Mas avião não tem probleminha. Ou tem problema ou não tem”, disse o corretor de imóveis Hidelbrando Alves, de 68 anos. Depois, um funcionário veio com a informação mais temida. “Disse: ‘Perdemos o avião’. Eu respondi: ‘Como? Se perde uma agulha, um avião não’”, disse Célia.
Naquele dia e na semana seguinte, milhões de fãs choraram o fim da banda, que havia estourado em 1995 e vendeu, em nove meses apenas, mais de 1,2 milhão de discos, segundo o produtor musical dos Mamonas, Rick Bonadio. “Ganharam disco de diamante na época. Hoje já passam de 5 milhões de cópias.”
Até chegar ao público (a maioria infantil), com suas letras cheias de duplo sentido e arranjos que variam do rock pesado ao forró, o caminho dos cinco jovens foi cheio de desafios, muitos deles infrutíferos, mas com humor e perseverança.
UtopiaO embrião dos Mamonas foi uma banda de rock pop que se inspirava em Legião Urbana e Cazuza: o Utopia. A primeira formação contava apenas com Bento Hinoto e os irmãos Reoli. Em um show no Parque Cecap, bairro próximo de Cumbica muito frequentado por adolescentes, os músicos receberam um pedido dos fãs: tocar “Sweet Child O’Mine”, sucesso dos Guns N’ Roses.
“O Dinho disse que sabia cantar a música em inglês, subiu lá no palco. Não sabia, mas sabia improvisar. Aí convidaram ele para a banda e ele foi”, disse o pai do cantor. Depois entraram o tecladista Márcio Araújo e Júlio Rasec (um “roadie” que fazia de tudo um pouco, desde ajudar em percussões até filmar e dirigir o clipe da banda).