Maria Júlia Coutinho: Sem nebulosidade
Sempre me intrigou a coreografia das moças do tempo. Elas, de modo geral, desfilam voluptuosamente, num red carpet imaginário, em direção a um telão distante, sugerindo não que estejam ali para informar sobre oscilações atmosféricas, mas para exibir ondulações anatômicas. Parecem modelos de feiras de automóvel; às vezes lembraram vendedoras de lingerie de grife. Não é culpa das coitadas que a meteorologia fique em segundo plano.
Há indícios de significativas mudanças climáticas na tevê. Por ironia, é uma mulher quem sinaliza que o telejornalismo da Globo decidiu arejar o noticiário e tirar a gravata. No sentido literal e também metafórico.
Maria Júlia Coutinho adentrou o Jornal Nacional com a espontaneidade risonha de quem quer trazer para a previsão do tempo a coloquialidade de uma conversa de elevador. O céu sobre nossas cabeças deixou de ser descrito em dialeto de especialistas. Maria Júlia ri, fica séria, brinca, se diverte. Algumas nuvens de racismo rasteiro despontaram no horizonte das redes sociais; nada que empane seu humor.
Dias atrás, morreu em Saint Louis, Missouri, aos 76 anos, Dianne Clatto. Dianne acabou se tornando, numa época em que os negros ainda eram chamados de colored ou de nigger, antes das marchas cívicas do Reverendo Martin Luther King, a primeira weathergirl negra da tevê americana, na KSD de St. Louis. Foi em 1962. A tevê brasileira demora um pouquinho para copiar os bons exemplos.