Incêndio na boate Kiss muda vida da população gaúcha
Entre as primeiras imagens que foram divulgadas na manhã do dia 27 de fevereiro sobre a tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, estava a de dois jovens tentando derrubar parte da fachada do prédio, enquanto uma densa fumaça saía de dentro do estabelecimento. Um desses jovens era Guilherme Ferreira da Luz, 25 anos. Estudante do último semestre de Zootecnia na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ele foi internado, logo depois, por inalação da fumaça tóxica e transferido para o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, onde ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Dois dias depois, numa satisfatória recuperação, foi transferido para o quarto.Após a alta, foi para a casa da família em Chapecó (SC), onde permaneceu uma semana. De volta a Santa Maria, Guilherme deparou com uma nova realidade: “A cidade está em luto.” Ele diz que o incêndio na boate Kiss modificou a postura das pessoas. “O que aconteceu mudou a vida, principalmente a maneira de as pessoas verem o mundo. É impressionante a quantidade de abraços que recebo. Abraços de carinho e união. Abraços que significam ‘que bom que você está aqui’. Todos passamos a valorizar mais as pessoas que fazem parte de nossas vidas”, avaliou.Sobre o gesto de ajudar no resgate após o início do incêndio, Guilherme diz que não tinha como agir diferente. “Queria ajudar os meus amigos e tive a oportunidade de ajudar outras pessoas. Não lembro do rosto de nenhuma delas, mas significavam vidas, com famílias, amigos e histórias”, resumiu ele, que ficou impressionado com a solidariedade e o apoio que recebeu de pessoas de diversas partes do País por meio das redes sociais. “Jamais terei como agradecer esses gestos”, confidenciou.Passado um mês, ele define a madrugada de 27 de janeiro em três palavras: “Deus, união e solidariedade”. “Todos estávamos unidos para salvar vidas e mesmo sem conhecer a maioria das pessoas, ajudamos”, explicou. Com muita cautela, ele avalia que da tragédia devem ficar as lembranças positivas. “Sou grato por ter sobrevivido. Mas quero guardar na memória as coisas boas e os sorrisos daqueles que se foram”, observou.