EGR terá que racionar recursos para bancar manutenção de rodovias

Às vésperas de assumir o controle dos pedágios, a Empresa Gaúcha de Rodovias(EGR) se embrenha no cálculo de receitas e despesas para medir a sua sustentabilidade financeira. Os levantamentos trazem preocupações: a estatal deverá racionar as receitas para cobrir a manutenção das estradas, tornando um sonho distante obras como duplicações.
Com base em uma projeção do fluxo de veículos nos 820 quilômetros de rodovias que estarão sob controle da EGR, a consultoria
Dynatest-SD, contratada pelo governo, estimou arrecadação de R$ 120 milhões em 2013. O montante considera tarifas básicas de R$ 5,25 nas 11 praças hoje privadas e os valores atualmente cobrados nos pedágios comunitários de Portão (R$ 4,80), Coxilha (R$ 3,60) e Campo Bom (R$ 2,40).
Os riscos ao caixa avolumam-se com o tamanho das despesas. Com pessoal e terceirização de serviços de informática, arrecadação, guarda e transporte de valores, serão gastos
R$ 36 milhões neste ano. E, para deixar as rodovias no patamar ideal, calculou a Dynatest-SD, seriam necessários mais R$ 200 milhões para a manutenção. O cenário estouraria o orçamento, mas o presidente da EGR, Luiz Carlos Bertotto, pondera que a recuperação das rodovias não é imediata. Trechos em bom estado poderão se manter por mais tempo, o que dissolverá o custo em médio prazo.
Ainda assim, os R$ 84 milhões disponíveis para as estradas (descontados os R$ 36 milhões de outros gastos) podem se mostrar escassos. Para a manutenção de um quilômetro de rodovia, conforme tabela de custo médio referencial do Dnit, é preciso
R$ 674 mil. A conservação rotineira, que envolve capina e tapa-buracos, consome mais R$ 41 mil em igual trecho, enquanto a sinalização exige investimento de R$ 5,7 mil.
Se fizer, ao longo de 2013, essas intervenções nos 820 quilômetros, a EGR gastará R$ 59 milhões. Sobrariam R$ 25 milhões para a contratação de serviços de ambulância e guincho e outros gastos como aluguel, impostos e veículos. Como o custo de duplicação de um quilômetro é de R$ 5 milhões, segundo a tabela do Dnit, haveria dinheiro para duplicar cinco quilômetros. Bertotto não descarta a busca de financiamentos para garantir grandes obras:
— Não vai faltar dinheiro, mas os empréstimos não estão descartados.
Empresa ainda opera em sede improvisada
Em um prédio nos fundos do terreno da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), no terceiro andar, após subir dois lances de velhas escadas de madeira, os nove funcionários da EGR (três diretores e seis assessores) se preparam para assumir a gestão de 14 praças de pedágio espalhadas pelo Estado.
Nas quatro salas contíguas, o retrato do improviso está logo no primeiro espaço, onde não há nada, exceto uma velha impressora matricial amarelada pela ação do tempo. Mas a precariedade da nova estatal deve acabar.
Na primeira quinzena de fevereiro, a empresa ocupará um andar do reformado prédio União, na esquina entre a Avenida Borges de Medeiros e a Rua Sete de Setembro, no Centro. A lei que criou a EGR autorizou o repasse de R$ 6 milhões para sua estruturação.
Contudo, a Fazenda repassou apenas R$ 500 mil para a empresa sobreviver até fevereiro, quando começará a ter receita própria ao assumir os pedágios comunitários de Portão, Coxilha e Campo Bom. O recurso repassado pelo governo foi aplicado na compra de computadores e móveis.
Presidente confia no sucesso das audiências
Quando se transferir para o prédio União, a EGR contará com um quadro de 50 funcionários. Destes, 35 estão sendo chamados por meio de uma seleção emergencial já concluída. Os demais serão os diretores e servidores cedidos por Daer, Procuradoria-Geral do Estado e Secretaria de Infraestrutura e Logística. Ao menos por enquanto, não foram contratados cargos de confiança.
Com a experiência de quem implantou a EPTC, na Capital, e ajudou a organizar o Ministério das Cidades, em Brasília, o engenheiro Bertotto mantém a serenidade. Emendando longas jornadas de trabalho, acredita que a EGR irá decolar. Também confia no sucesso das audiências públicas que serão realizadas no Interior:
— Vamos apresentar o que temos, discutir com as comunidades, ver as demandas. O que decidirmos fazer nas rodovias vai determinar o valor das tarifas.
OBRAS MINGUADAS
— A arrecadação da EGR em 2013 deverá ser de R$ 120 milhões
— Do total, R$ 36 milhões iriam para contratação de pessoal e serviços
— Sobrariam R$ 84 milhões
— Se executar ações de manutenção, conservação e sinalização, a estatal gastará R$ 59 milhões
— Outros R$ 700 mil poderiam ir para serviços de guincho e ambulância
— Restariam R$ 24,3 milhões para investir em obras
— O valor equivale ao custo da duplicação de 5 quilômetros de estrada